Eu li num lugar que escrever é tal e qual fazer brigadeiro,
vai juntando coisas, mexendo, virando, acarinhando e quando você menos espera
ta lá o bicho pronto... aí é devorar...
Fiquei pensando nisso (acabei fazendo brigadeiro nesse meio
tempo) e resolvi começar a juntar ingredientes... panela, carinho, açúcar(não
muito), atenção, pesquisa, emoção, e boas pitadas de humor (só pra temperar).
I
Chico do Francisco era Mestre Sala, daqueles dos bons, que
cortejava sua Porta Bandeira com todo amor e segundas intenções para desespero
de Guimba, o marido da Dita. Quem era Dita? Era a Deusa do morro.
Posto já as três figuras vou esmiuçá-las com mais afinco
(gosto dessa palavra esmiuçar, pra mim é uma palavra colorida, porque pra mim
toda palavra tem sua cor, agente enche a boca depois cospe ESMIUÇAR). Vamos
começar com Chico do Francisco, Chico vem de uma família muito criativa. O nome
do seu pai era Francisco, o do seu avô era Francisco, o do pai do avô era
Francisco, era uma raça enorme de Franciscos, sabe como é no morro... Quem é
esse sujeito???? Ahhh é o fulano filho de Fulano e aí o Chico virou Chico do
Francisco, fica um pleonasmo familiar (Pleonasmo é aquele negócio de “entrar pra
dentro”, “vi com meus olhos” e pleonasmo pra mim é cor de abóbora, quase ocre).
Então o povo criativo produziu o Chico, Chico era aquele
gente boa (muito boa, diga-se de passagem, uma coisa de moreno!) era aquele
amigão, aquele que podemos contar no hora do aperto, chama o Chico que ele
resolve em três palitos, durante o ano ele tinha um emprego de “gente normal”
era ajudante de caminhão, carregava e descarregava cerveja, Ehh laiá... Mas na
hora de trabalho ele só carregava e descarregava nada de carregar para o
próprio copo. Trabalhava duro o Chico, sustentava a casa com a mãe, a irmã, os
filhos da irmã e o cunhado (se cunhado fosse bom não começava com... você
sabe). Chico passava os dias carregando cerveja nas costas e o cunhado passava
o dia bebendo e fazendo a mesma piadinha mequetrefe... “Estou valorizando o
trabalho do cunhadão, ele faz tanto esforço pra carregar que eu faço o esforço de beber”, Chico “garrou” um ódio
pelo sujeito, como que sua irmã, uma menina tão bacana (feia, mas bacana)
conseguiu casar e se reproduzir com aquele sujeito, mas tudo tem um lado bom...
Os sobrinhos eram boa parte da vida de Chico, o tempo que ele tinha livre ele
brincava com os moleques (Moleque não é uma palavra amarela? Um amarelo bem vivo, bem forte, bem
brilhante...) era uma confusão... vuco vuco, um monte de “seiláoquê”
acontecendo ao mesmo tempo... um berrava com a bola o outro berrava com a pipa
e o outro com aquele bicho eletrônico que o Chico comprou no Natal, caraca que
troço caro vai pagar em 10x sem juros... Mas valeu a carinha dos moleques
(agora num amarelo mais clarinho, carinhoso).