sábado, 25 de abril de 2020

Ah, o carnaval


     Ah, o carnaval! Parece que novas leis vigoram e o reinado de Momo é realmente levado a sério. Hábitos mudam, atitudes que seriam inaceitáveis em "dias comuns" são perfeitamente normais. No carnaval o brasileiro coloca o "bloco na rua", não só o bloco com música e dança, entende-se por "bloco" as vontades reprimidas, os desejos, o seu EU que fica ali reprimido, escondidinho durante o ano.
     O povo brasileiro não é muito famoso por sua capacidade de organização política ou econômica, não conhece as leis, não conhece seu direitos e não sabe votar, mas para o carnaval viramos verdadeiros mestres e doutores em organização e conhecimento do enredo, é uma "brincadeira" extremamente séria para o brasileiro.
     O carnaval é o ópio, a válvula de escape , é quando pessoas comuns se tornam reis e rainhas, é quando o povo se sente verdadeiramente importante, as divisões de classes sociais perdem um pouco sua importância. O carnaval nivela, equilibra? Acho que sim, em alguns momentos... Estamos ali lado a lado, sem me importar de não ter conseguido pagar a conta do telefone e a odalisca que beija meu amigo, ser a filha de um grande acionista da companhia telefônica.
     Mas acaba, né?  Na quarta tudo vira cinzas, (se bem que esse ano o coelhinho chegou no mesmo dia que a Globeleza deixou cair seu último paetê na sala) e o povo tem novamente que se preocupar com a conta do telefone, com os R$ 0,20 do ônibus, com os salários curtos e os meses longos...
     Fico na esperança que possamos empregar a mesma energia purpurinada no nosso dia a dia, utilizar a criatividade que o carnaval fomenta para gerir nossas vidas, e que o diretor de harmonia que vê um buraquinho no meio de uma ala em plena Marquês de Sapucaí, possa usar a mesma sagacidade para perceber que seu filho é "armeiro" do tráfico.

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